Imagine ser responsável por 70 milhões de pessoas.
Enfrentar guerras em múltiplas fronteiras.
Lidar com uma pandemia devastadora.
Navegar por traições políticas constantes.
E ainda assim, manter clareza mental e equilíbrio emocional.
Este foi o desafio diário de Marco Aurélio, o imperador-filósofo que governou Roma durante um dos períodos mais turbulentos de sua história.
Ao ler seu diário pessoal, conhecido hoje como “Meditações”, encontramos não um homem imune ao sofrimento, mas um que desenvolveu uma prática interior que lhe permitiu enfrentar o caos com serenidade.
O que me impressiona não é que ele tenha sido perfeito – certamente não foi – mas que, em meio a pressões que esmagariam a maioria de nós, ele continuou retornando a princípios fundamentais que ancoravam sua mente.
No centro de sua prática estava um princípio que hoje chamamos de “Dicotomia do Controle”, articulado originalmente por Epicteto:
“Algumas coisas estão sob nosso controle, outras não.”
Sob nosso controle estão nossas opiniões, aspirações, desejos e aversões – em suma, nossas próprias ações. Fora de nosso controle estão nosso corpo, propriedade, reputação, posição – em suma, tudo que não são nossas próprias ações.”
Estas palavras, escritas pelo filósofo estoico Epicteto (que viveu como escravo antes de se tornar professor), foram copiadas à mão por Marco Aurélio em seu diário pessoal. E se tornaram a base de sua prática diária.
Cada manhã, antes de enfrentar as demandas esmagadoras de governar um império, Marco Aurélio aplicava este protocolo às situações que enfrentaria:
- DISCERNIMENTO – Ele separava claramente o que estava sob seu controle do que não estava
- CONCENTRAÇÃO – Focava toda sua energia apenas no que podia influenciar
- ACEITAÇÃO – Desenvolvia paz genuína com o que estava além de seu controle
Esta prática não era apenas um exercício intelectual.
Era uma disciplina diária que moldava sua percepção da realidade e suas respostas a ela.
Em suas próprias palavras: “Você tem poder sobre sua mente – não sobre eventos externos. Perceba isso, e você encontrará força.”
O que me comove sobre esta abordagem é sua aplicabilidade universal. Não importa se você governa um império ou apenas tenta navegar pelos desafios do dia a dia, a distinção entre o que podemos e não podemos controlar permanece igualmente relevante.
Em nosso mundo contemporâneo, todos enfrentamos:
- Incerteza profissional crescente
- Mercados financeiros voláteis
- Relacionamentos complexos
- Demandas infinitas por nossa atenção
- Preocupações constantes com saúde
A sabedoria de Marco Aurélio nos lembra que, embora não possamos controlar estas circunstâncias externas, temos domínio absoluto sobre nossa resposta a elas. Esta é uma liberdade que ninguém pode tirar de nós – a liberdade de escolher nossa interpretação e nossa ação.
Quando praticamos este discernimento diariamente – separando o controlável do incontrolável e direcionando nossa energia apenas para o primeiro – experimentamos uma transformação sutil mas profunda.
Os problemas não desaparecem, mas nossa relação com eles muda profundamente.
Encontramos, como Marco Aurélio encontrou, uma fortaleza interior que permanece inabalável mesmo quando o mundo exterior está em chamas.
Descobrimos que nossa verdadeira soberania não reside em controlar circunstâncias, mas em dominar nossas respostas a elas.
Convido você a experimentar esta prática hoje. Antes de enfrentar seus próximos desafios, pause por um momento. Pergunte a si mesmo:
“O que está sob meu controle nesta situação?”
“O que está além do meu controle?”
“Como posso focar minha energia apenas no primeiro, enquanto aceito serenamente o segundo?”
Esta simples distinção, praticada consistentemente, pode transformar sua experiência de vida tão profundamente quanto transformou a de Marco Aurélio há quase dois mil anos.
Não para eliminar seus problemas, mas para transformar sua relação com eles.
Com sabedoria, coragem e clareza,
Railka Wan Der Maas